“Tempo é dinheiro”, esta é uma daquelas frases que ouvimos tantas vezes, popularizada por Benjamim Franklin. E se tempo é dinheiro, o que fazemos é fazer o máximo no tempo que temos (de outra forma perdemos dinheiro, e nós não gostamos nada de perder). Então fazemos mais, mais e mais. É isto que aprendemos à medida que vamos crescendo.

A velocidade atrai-nos, não só porque alimenta inconsciente a nossa percepção de autoeficácia mas porque nos inunda de adrenalina. Mais um check na lista de tarefas. “Admiro-te por conseguires fazer tudo ao mesmo tempo”, ouço tantas vezes. Motivamo-nos uns aos outros sem contarmos e conhecermos a verdade toda.

A velocidade protege-nos ainda de pensar nas nossas vulnerabilidades, nos problemas que temos por resolver, na insatisfação que sentimos em relação a tanta coisa. Protege-nos de sentir, a característica que mais nos distingue de outro qualquer ser vivo. A velocidade, aliada à “falta de tempo”, passou a ser a “desculpa” perfeita para a procrastinação. “Andamos sempre a correr, não temos tempo para nada”, “já passaram 5 anos?”.

Tornou-se comum comer sem apreciar a comida, ler sem refletir e transcender no que acabámos de ler, estar com quem gostamos sem realmente estar lá. No trabalho igual, trata-se tão somente de completar, completar, completar. Não admira que ouça tantas vezes “as pessoas já não fazem as coisas por gosto”, “esta geração não tem interesse por nada”.  De facto, perdemos a “spark”, o brilho, talvez tenhamos perdido a capacidade para sonhar, imaginar, criar.

Como não apreciamos o caminho, não nos permitimos ser impactados por ele, pelos livros que lemos, pela comida que comemos, pelas pessoas com quem estamos.

Definimos objetivos para a vida e não vida nos objetivos.

O fim é o objetivo, não o caminho. O feitiço vira-se contra o feiticeiro, o preço a pagar é não viver de facto, é simplesmente passar pela vida, em autêntico piloto automático. É estar com a família e amigos e a olhar para o relógio sem conectar, é tirar formação sem fim e não solidificar conhecimento algum, é tanta coisa. É uma perda de tempo, porque a essência ficou pelo caminho, os valores. É como ir a um concerto e não ouvir a música.

Neste contexto do mundo “fast”, não admira que até a própria comida nos deixe intolerantes, a massa que outrora demorava duas, três, quatro horas a levedar, agora já só lhe damos 30 minutos. O nosso estômago passou a ser a mais uma das vítimas deste mundo que vive com elevado sentido de urgência para tudo.

Acredito profundamente, pelo bem da nossa saúde, física e mental, que precisamos de (re)aprender a abrandar, a relaxar. Viver devagar não significa viver de forma lenta, nem menos produtiva. Significa em primeiro lugar decidir, decidir o que de facto é importante para nós, o que de facto queremos manter na nossa vida. Na verdade, era isso que Benjamim Franklin queria transmitir com a famosa frase, chamar-nos à atenção pela forma como utilizamos o nosso tempo.

As pessoas que vivem “devagar” vivem melhor, comem melhor, relacionam-se melhor, trabalham melhor.

Precisamos de (re)aprender a dar às coisas o tempo que as coisas precisam.

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