É frequente vermos nas redes sociais hastags #ilovemyjob e até “quem faz o que gosta não terá de trabalhar 1 dia na vida”. E de facto é fantástico que isto aconteça, é isto que todos queremos, certo? Adorar o que fazemos?

Mas e quando temos péssimos dias no trabalho? E quando passamos por experiências profissionais que não gostamos assim tanto? Por norma, não publicamos.

Isto significa que podemos ficar com uma ideia enviesada do que é ou do que deveria ser a realidade do trabalho, do dia-a-dia a desempenhar o nosso papel enquanto ser profissional e do que está por trás de uma determinada carreira profissional.

Com a proliferação destas mensagens, e pelo efeito da comparação social, as expectativas ficam extremamente altas, especialmente para quem está a integrar o mercado de trabalho, iniciar o percurso profissional, porque tudo o que não me faça adorar o meu trabalho poderá e tenderá a ser negado, recusado ou a ser vivido com um elevado nível de frustração.

Assisto e observo com alguma frequência a este “romantismo” da carreira, do trabalho e da vida profissional, não apenas nas redes sociais, mas também em contexto de entrevista.

Este “romantismo” levado ao extremo, pode traduzir-se no início de uma vida profissional tardia, fraco autoconhecimento profissional, desenvolvimento tardio de competências transversais e claro, desemprego.

É importante desmistificar que por trás de pessoas que adoram o que fazem, estão dias de frustração, estão currículos onde constam experiências profissionais que não adoraram, mas que ainda assim foram importantes por esta ou outra razão. Experiências profissionais que embora não adorassem lhes permitiram conhecer pessoas, aprender a fazer coisas, aprender a relacionarem-se, contactarem com determinado tipo de indústria, setor e área de negócio que, provavelmente, hoje, no trabalho que adoram, utilizam. É tudo uma questão de perspetiva, de flexibilidade, de tirar partido das experiências e, acima de tudo, de usufruir do percurso.

Aprender a automotivarmo-nos em tarefas que não gostamos assim tanto, aprender a lidar com o colega que tem “feitio difícil” é tão importante como desenvolver o ficheiro X e intervir no processo Z que aprendemos no curso.

“Roma e Pavia não se fizeram num dia”.  Às vezes o mundo não precisa de mudar, nós só nos precisamos de distanciar um pouco, ganhar perspetiva e preparamo-nos para ver as milhentas oportunidades que estão por aí, à nossa disposição.

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